quarta-feira, 26 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cova VI

Pois é, mais um fim-de-semana com novidades.
Mesmo sobre a Lapa da Cova surge mais uma pequena caverna. Esta encontra-se para já obstruída por sedimentos e, sobre estes, pôde-se logo detectar um objecto esculpido em madeira. Arte pastoril?

sábado, 1 de maio de 2010

Arrábida Antiga

CRISTÓVÃO FALCÃO
(1518-1557)

CRISFAL

Entre Sintra, a mui prezada,
e serra do Ribatejo
que Arrábida é chamada,
perto donde o rio Tejo
se mete na água salgada,
houve um pastor e pastora,
que com tanto amor se amaram
como males lhe causaram
este bem, que nunca fora,
pois foi o que não cuidaram.

A ela chamavam Maria
E ao pastor Crisfal,
ao qual, de dia em dia,
o bem se tornou em mal,
que ela tão mal merecia.
Sendo de pouca idade,
Não se ver tanto sentiam
que, o dia que não se viam,
se via na saudade
o que ambos se queriam.

Algumas horas falavam,
Andando o gado pascendo;
e então se apascentavam
os olhos, que, em se vendo,
mais famintos lhe ficavam.
E, com quanto era Maria
pequena, tinha cuidado
de guardar melhor o gado
o que Crisfal dizia;
mas, em fim, foi mal guardado.

Que, depois de assim viver
nesta vida e neste amor,
depois de alcançado ter
maior bem para mor ter
em fim se houver de saber
por Joana, outra pastora
que a Crisfal queria bem.
Mas o bem que de tal vem,
não ser bem maior bem fora,
por não ser mal a ninguém.

A qual, logo aquele dia
Que soube de seus amores,
Aos parentes de Maria
fez certos e sabedores
de tudo quanto sabia.
Crisfal não era então
dos bens do mundo abastado
tanto como do cuidado;
que, por curar da paixão,
não curava do seu gado.

E, como em a baixeza
do sangue e pensamento
é certa esta certeza:
- cuidar que o merecimento
está só em ter riqueza - ,
enqueriram que teria
e do amor não curaram;
em que bem se descontaram
riquezas que faleciam,
por males que sobejaram.

Então, descontentes disto,
levaram-na a longes terras,
esconderam-na entre serras,
onde o sol não era visto,
e a Crisfal deixaram guerras.
Além da dor principal,
para mor pena lhe dar,
puseram-no em lugar
mau para dizer seu mal,
mas bom para o chorar.

Ali os dias passava
em mágoas, da alma saídas,
dizer a quem longe estava;
e chorava por perdidas
as horas que não chorava,
em vales mui solitário,
sombrio e saudoso,
sendo monte temeroso,
para o choro necessário,
para a vida mui danoso,

Dizer o que ele sentia,
em que queira não me atrevo,
nem o chorar que fazia;
mas as palavras que escrevo
são as que ele dizia.